
Escrita por Ery Lopes
Saindo do calabouço e seguindo pela passagem aberta pelo anjinho, Michelle, Eduardo e Adam caminhavam por um túnel cheio de curvas, iluminados por minúsculas luzes roxas piscantes fixadas no teto do túnel.
A mocinha quebrou o silêncio:
— Aonde será que essa passagem vai nos levar?
— Como vamos saber? — respondeu Eduardo.
Foi nessa hora que Adam, que estava à frente da caminhada, anunciou a novidade da vez:
— Vejam! Tem outras passagens por aqui.
De fato, ali à frente havia três passagens diferentes e cada uma delas continha outras passagens. Ou seja, eles estavam agora em um labirinto.
— Por qual devemos seguir? — Adam perguntou — A da direita, a da esquerda ou a do meio?
Eduardo deu a sua ideia:
— Parece tudo igual. Então, qualquer uma que pegarmos provavelmente vai nos levar para fora daqui. Vamos pela passagem do meio.
Michelle contestou:
— Eu prefiro a da direita!
Para evitar confusão, Adam fez uma proposta:
— Então, vamos tirar na sorte para ver por qual passagem devemos ir?
Eles fizeram o sorteio e a passagem escolhida foi a da esquerda. Michelle não gostou muito do resultado, mas preferia acompanhar os meninos a ficar sozinha naquele lugar estranho.
Depois de caminharem por um bom tempo, deram uma parede: aquela trilha era sem saída.
— Tudo bem! — disse Eduardo — Vamos voltar e seguir por outra passagem.
Mas tão logo viraram as costas, a parede que fechava a passagem começou a reproduzir imagens, como um grande telão de cinema. As crianças se viraram para ver o que se passava e então começaram a ver e ouvir as cenas representadas ali.
— Sou eu! — Eduardo exclamou.
Realmente, as cenas reproduzidas ali traziam o momento em que ele caminhava para o seu quarto — bastante irritado, inclusive. Como que voltando no tempo, aquele telão misterioso agora exibia som e imagem de várias brigas entre Eduardo e sua Irmã; algumas vezes, ela o provocava, mas noutras tantas, era o garoto quem começava a briga. O telão mostrava ainda quantas vezes a menina tentava fazer as pazes entre eles, sem que ele aceitasse, pois o que ela queria era poder brincar com o irmão, sendo que este sempre se recusava a brincar com ela.
Eduardo não estava gostando de aquelas cenas particulares serem exibidas para seus colegas de labirinto, ainda mais quando Michelle lhe fez esse comentário:
— Você disse que sua irmã era insuportável, mas você também a provocava…
Eduardo esbravejou contra ela:
— Não é da sua conta, ouviu?
Adam tomou a frente dele e tentou acalmá-lo:
— Não importa se vocês brigaram tanto, nem quem estava certo ou errado: o que importa é que você pense que ela faz parte da sua família, é sua irmã, e que é melhor estar na sua casa, com ela, do que estar aqui nesse labirinto, não é?
Eduardo ficou quieto e Michelle completou:
— Os irmãos podem ser chatos às vezes, mas também podem ser ótimos companheiros de diversão.
O cinema mágico agora reproduzia a irmã de Eduardo chorando, perguntando por ele:
— Edu, onde você está? Por que nos deixou? Estamos sentindo a sua falta!
Aquelas cenas aceleraram o coração do menino e fizeram lágrimas molharem os seus olhos. Pela primeira vez, ele sentiu falta da irmã e desejo de fazer as pazes, abraçá-la e querer brincar com ela.
— É melhor seguirmos em frente — Adam propôs.
Eles voltaram e pegaram outra trilha. Só que esta, mais adiante, também dava com uma parede fechando a passagem. E antes que os três aventureiros se virassem para entrar por outro túnel, um novo telão se formou para reproduzir novas imagens.
O filme da vez envolvia a menina. Michelle aparecia no telão discutindo com os pais.
— Eu não quero ver isso! — disse ela, virando-se para fugir dali.
Mas a passagem de volta também se fechou e ela se viu obrigada a assistir ao que se passou em sua casa nos últimos dias. Desobediente e muito manhosa, ela estava sempre pedindo coisas para seus pais ao mesmo tempo em que não cumpria seus deveres.
A cena mostrada agora era a dos seus pais explicando que o passeio prometido ao shopping center estava cancelado justamente por ela não feito a lição escolar daquele dia.
Depois que as cenas forma reproduzidas, Michelle ficou envergonhada, pois estava começando a compreender seus erros.
Logo mais, a parede do labirinto projetou imagens dos pais da garota a procurando por toda a parte, aflitos por não encontrarem a filha a quem eles tanto querem bem.
— Eu estou aqui, papai, mamãe… — ela gritou para o telão.
Eduardo comentou:
— Eu acho que não vai adiantar gritar por eles daqui.
Ela insistia em tentar falar com seus pais:
— Me desculpem, papai, mamãe… Eu quero voltar pra casa! Eu quero vocês de novo! Socorro!
Passado alguns minutos, ela ficou mais calma e a passagem se abriu novamente.
— Temos que ir embora! — Eduardo exclamou.
Então eles se puseram em marcha e entraram noutra trilha do labirinto. Foi então quando Adam disse:
— Bem, eu até já sei o que vai acontecer agora.
E quase não terminou de falar para que uma parede fechasse a passagem e começasse a reproduzir a sua história. As cenas mostravam seu pai lhe presenteando uma bola e um belíssimo par de chuteiras novas, além de concordar em brincar de futebol com o filho. Contudo, vindo a chuva, Adam ficou irritado e destratou seu pai.
Assistindo àquilo, Adam chorava e soluçava de arrependimento. Então exclamou:
— Por favor, papai, me perdoa!
Eduardo colocou a mão no ombro do novo colega e disse:
— Amigo Adam, todos nós aqui fizemos um mal e agora precisamos de uma nova chance.
— É isso mesmo! — Michelle concordou — Vamos sair daqui, voltar para nossa casa e recomeçar a vida com nossa família!
Adam ficou mais consolado e os três se dispuseram a caminhar e encontrar uma saída daquele labirinto de memórias tão tristes para cada um deles.